Assisti ontem “Como Começar uma Revolução”, documentário inglês sobre o trabalho do especialista em ação não-violenta Gene Sharp.
Americano e militante pacifista, ele se recusou a participar da Guerra
da Coréia nos anos 50, foi preso por isso e a partir daí dedicou a vida a
pesquisar formas de derrubar governos sem a necessidade do uso de
violência. Em 1993, ele publicou “Da Ditadura à Democracia – Uma
Estrutura Conceitual para a Liberação”, que compila métodos pacíficos de
resistência e ação para grupos oprimidos. O livro já foi traduzido para
mais de 40 línguas e é considerado uma peça intelectual importante em
diversas insurgências ao redor do mundo.
O filme está disponível gratuitamente no NOW (vá na sessão NOW TV e
procure pelos documentários do GNT). Alguma boa alma também gravou da
NET essa versão com legendas em português e botou inteiro no YouTube:
Embora eu não conheça profundamente o trabalho de Sharp, achei
extremamente inspiradora a disposição dele não apenas de estudar e
disseminar essas técnicas, mas principalmente de ORGANIZÁ-LAS. Opressão,
em toda e qualquer escala, de relações institucionais até pessoais, é
uma situação que nos deixa frequentemente paralisados. Oferecer um
caminho estruturado com tantas opções de linhas de ação quando se sente
que não se pode fazer nada – e que a violência é a única saída – é
realmente uma contribuição inestimável. Mais interessante ainda, Sharp
não defende que os atos revolucionários pacíficos sejam uma simples
alternativa à luta armada, mas sim a alternativa mais eficiente.
Alguém que postula isso nesse momento tenso em que estamos vivendo no
mínimo merece uma hora da sua atenção, né? O Brasil não está em
situação tão limítrofe quanto está a Síria ou quanto estavam o Egito e a
Tunísia recentemente, mas ainda assim a compilação e a reflexão de
Sharp se mantém válidas especialmente para ampliar o acesso à ideia de
que existem alternativas para ações violentas. Pelo que acompanho nas
redes sociais, muita gente ainda acha que a melhor maneira de lidar com
os políticos corruptos ou com a polícia violenta ou com os black blocs
ou com os comunistas ou com os baderneiros ou com os reacionários é
descer o cacete. Poucas dessas pessoas efetivamente bateriam ou
machucariam alguém, mas uma quantidade ainda assustadora dissemina na
internet (e em papos de boteco) a ideia da violência como solução
plausível e eficiente.
***
Algumas notas complementares:
* O pessoal do Hypeness recentemente escreveu um post falando um pouco mais sobre Sharp e o documentário. Dê um pulo aqui pra ler.
* O post inclusive indicam um link pra fazer download do livro dele em português gratuitamente.
* Eu já tinha lido por aí sobre Sharp, mas foi “Como Mudar o Mundo” do
John Paul Flintoff que me fez ir atrás de mais material. Esse livreto
faz parte de uma série da School of Life e saiu em português no Brasil
pela Objetiva, que colocou um bom trecho pra baixar em PDF. Basta clicar aqui com o botão direito e baixar.
***Curioso pra saber quais são os 198 métodos? Peguei a lista no MerdTV.
OS MÉTODOS DE PROTESTO NÃO VIOLENTOS E PERSUASÃO
Declarações formais
1. Discursos públicos
2. Cartas de oposição ou de apoio
3. Declarações de organizações e instituições
4. Declarações públicas assinadas
5. Declarações da acusação e de intenção
6. Comunicações de petições em Grupo ou em massa
Comunicação com uma audiência mais ampla
7. Slogans, caricaturas e símbolos
8. Banners, cartazes e comunicações exibidas
9. Folhetos, panfletos e livros
10. Jornais e revistas
11. Discos, rádio e televisão
12. Escritas com fumaça no céu ou na terra
Representações em grupo
13. Delegações
14. Prêmios satíricos
15. Grupos de lobby
16. Piquetes
17. Simulacros de eleições
Atos públicos simbólicos
18. Exibição de bandeiras e cores simbólicas
19. Uso de símbolos
20. Oração e culto
21. Entrega de objetos simbólicos
22. Nudez em protesto
23. Destruição de propriedade própria
24. Luzes simbólicas
25. Mostra de retratos
26. Pintura como forma de protesto
27. Novos sinais e nomes
28. Sons simbólicos
29. Reclamações simbólicas
30. Gestos rudes
Pressões sobre os indivíduos
31. “Atormentar” funcionários
32. “Insultar” funcionários
33. confraternização
34. Vigílias
Teatro e música
35. Sketches cômicos e brincadeiras
36. Desempenho de jogos e música
37. Canto
Procissões
38. Marchas
39. Desfiles
40. Procissões religiosas
41. Peregrinações
42. Cortejos
Homenagem aos mortos
43. Luto Político
44. Simulacros de funerais
45. Funerais demonstrativos
46. Peregrinação a locais de sepultamento
Assembleias públicas
47. Assembleias de protesto ou de apoio
48. Reuniões de protesto
49. Reuniões camufladas de protesto
50. Invasões de aulas
Retirada e renúncia
51. Abandono de recinto
52. Silêncio
53. Renúncias a homenagens 55
54. Virar as costas
MÉTODOS DE NÃO COOPERAÇÃO SOCIAL
Ostracismo de pessoas
55. boicote Social
56. Boicote social seletivo
57. greve de sexo
58. Excomunhão
59. Interdições
Não cooperação com os eventos sociais, costumes e instituições
60. Suspensão de atividades sociais e esportivas
61. Boicote a assuntos sociais
62. Greve estudantil
63. Desobediência Social
64. Retirada de instituições sociais
Retirada do sistema social
65. Permanência em casa
66. Não-cooperação pessoal total
67. Fuga de trabalhadores
68. Santuário
69. Desaparecimento coletivo
70. Emigração em protesto (hegira)
OS MÉTODOS DE NÃO COOPERAÇÃO ECONÔMICA:
(1) BOICOTES ECONÔMICOS
Ação por parte de consumidores
71. boicote de consumidores
72. Não-consumo de mercadorias boicotadas
73. Política de austeridade
74. Retenção de aluguel
75. Recusa de alugar
76. boicote nacional de consumidores
77. Boicote internacional de consumidores
Ação por parte dos trabalhadores e produtores
78. Boicote de Trabalhadores
79. Boicote de produtores 56
Ações por intermediários
80. Boicote de Fornecedores e manipuladores
Ação de proprietários e gerentes
81. Boicote de negociadores
82. Recusa a alugar ou vender imóveis
83. Locaute
84. Recusa de assistência industrial
85. “Greve geral” de comerciantes
Ação por parte dos titulares de recursos financeiros
86. Retirada de depósitos bancários
87. Recusa de pagamento de taxas, encargos e multas
88. Recusa de pagamento de dívidas ou de juros
89. Corte de fundos e de crédito
90. Recusa da receita
91. Recusa de dinheiro de um governo
Ação de governos
92. Embargo Doméstico
93. “Lista negra” de comerciantes
94. Embargo de vendedores internacionais
95. Embargo de compradores internacionais
96. Embargo de comércio internacional
OS MÉTODOS DE NÃO COOPERAÇÃO ECONÔMICA:
(2) GREVE
Greves simbólicas
97. greve de protesto
98. Paralização rápida (greve relâmpago)
Greves agrícolas
99. Greve de camponeses
100. Greve de trabalhadores agrícolas
Greves de grupos especiais
101. Recusa de trabalho impresso
102. Greve de prisioneiros
103. Greve de Artesãos
104. Greve Profissional
Greves industriais comuns
105. Greve de Estabelecimento
106. Greve de Indústria
107. Greve de Simpatia
Greves restritas
108. Greve detalhada
109. Greve de recusa
110. Operação tartaruga
111. Operação padrão
112. Informe de “doença”
113. Greve por demissão
114. Greve limitada
115. Greve seletiva
Greves multi-industriais
116. Greve generalizada
117. Greve geral
Combinações de greves e fechamentos econômicos
118. Hartal (fechamento geral)
119. Desligamento Econômico
MÉTODOS DE NÃO COOPERAÇÃO POLÍTICA
Rejeição da autoridade
120. Retirada ou contingenciamento de fidelidade
121. Recusa de apoio público
122. Literatura e discursos defendendo a resistência
Não-cooperação dos cidadãos com o governo
123. Boicote de corpos legislativos
124. Boicote às eleições
125. Boicote de emprego e cargos no governo
126. Boicote aos departamentos governamentais, agências e outros órgãos
127. Retirada de instituições de ensino governamentais
128. Boicote de organizações apoiadas pelo governo
129. Recusa de assistência aos agentes da lei
130. Remoção de sinais próprios e marcadores
131. Recusa em aceitar funcionários nomeados 58
132. Recusa a dissolver as instituições existentes
Alternativas dos cidadãos à obediência
133. Respeito relutante e lento
134. Não-obediência na ausência de supervisão direta
135. Não-obediência Popular
136. Desobediência disfarçada
137. Recusa de uma assembleia ou reunião dispersar-se
138. Ocupação sentada
139. Não-cooperação com o serviço militar obrigatório e deportação
140. Ocultação, fuga e identidades falsas
141. Desobediência civil a leis “ilegítimas”
Ação de funcionários do governo
142. Recusa seletiva de assistência por assessores do governo
143. Bloqueio de linhas de comando e informações
144. Retardamento e obstrução
145. não-cooperação administrativa geral
146. Não-cooperação judiciária
147. Ineficiência deliberada e não-cooperação seletiva de agentes da lei
148. Motim
Ação governamental doméstica
149. Evasões semilegais e atrasos
150. Não-cooperação por unidades governamentais
Ação governamental internacional
151. Mudanças na representação diplomática e outras representações
152. Atraso e cancelamento de eventos diplomáticos
153. Retenção do reconhecimento diplomático
154. Rompimento das relações diplomáticas
155. Retirada de organizações internacionais
156. Recusa de participação em organismos internacionais
157. Expulsão de organizações internacionais
OS MÉTODOS DE INTERVENÇAO NÃO VIOLENTA
Intervenção psicológica
158. Auto exposição aos elementos
159. Jejum:
(a) Jejum de pressão moral
(b) Greve de fome
(c) Jejum Satyagrahica
160. Julgamento reverso
161. Assédio não violento
Intervenção física
162. Ocupação sentada
163. Ocupação de pé
164. Ocupação de meios de transporte
165. Ocupação de rios
166. Ocupação de usinas
167. Ocupação rezando
168. Ataques Não violentos
169. Bombardeios aéreos não violentos
170. Invasão não violenta
171. interjeição não violenta
172. Obstrução não violenta
173. Ocupação não violenta
Intervenção social
174. Estabelecimento de novos padrões sociais
175. Sobrecarga de instalações
176. Interferência retardatoria
177. Intervenção com discursos
178. Teatro de guerrilha
179. Instituições sociais alternativas
180. Sistema alternativo de comunicação
Intervenção econômica
181. Greve reversa
182. Greve com permanência
183. Ocupação de terra não violenta
184. Desafio a bloqueios
185. Falsificação politicamente motivada
186. Compra preventiva
187. Apreensão de bens
188. Dumping
189. Patrocínio Seletivo 60
190. Mercados alternativos
191. Sistemas de transporte alternativo
192. Instituições econômicas alternativas
Intervenção Política
193. Sobrecarga dos sistemas administrativos
194. Revelação da identidades de agentes secretos
195. Busca de prisão
196. Desobediência civil de leis “neutras”
197. Trabalho sem colaboração
198. Dupla soberania e governo paralelo
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